A Microsoft, a Toshiba, António Borges
e a produtividade dos portugueses

Num debate, ontem à noite, na RTPn, António Borges (que o país conheceu pela primeira vez em 1988, quando tinha 38 anos e foi capa da revista Fortune, e que, nos últimos anos, tem surgido como porta-voz do PSD sempre que é preciso debitar algumas enormidades) defendeu que o dinheiro que o Governo quer dar aos cidadãos, através do aumento do salário mínimo nacional, por exemplo, era mais bem empregue nas empresas porque são estas que criam riqueza.

Segundo Borges, o que faria falta a Portugal (cito de cor) era um melhor "ambiente para as empresas" e justificava com o estafado argumento de que (cito novamente de cor) "se os trabalhadores portugueses são excelentes e produtivos quando emigram, então é porque lá encontram um 'ambiente empresarial' que não existe em Portugal".

Não, António Borges, não é. Eu faço-lhe um desenho: os portugueses dão o seu melhor quando os gestores e empresários são bons! Sabe como é que eu sei (e provavelmente você também sabe, mas tem de dizer o que dá jeito e é politicamente correcto para o seu partido)? É que os mesmos portugueses em Portugal também dão o seu melhor em empresas bem geridas.

Quer exemplos? As subsidiárias portuguesas da Microsoft e da Toshiba foram eleitas como as melhores do mundo - com trabalhadores portugueses, a funcionar em Portugal (o tal país que você acha que tem um mau "ambiente para os negócios") e a vender para empresas portuguesas.

Quer mais exemplos, fora da área das tecnologias? Veja a IKEA, com trabalhadores altamente motivados e que dão o litro pela empresa, a qual está extremamente satisfeita com o seu investimento em Portugal (sabe, o "tal" país...) e está já a planear mais espaços comerciais.

Outro: a fábrica da Volkswagen em Palmela, que é das mais produtivas da VW em todo o mundo (é verdade, Palmela fica em Portugal e os trabalhadores da fábrica são - surpresa! - portugueses).

O que é que isto tudo prova? Prova que os portugueses, em Portugal, também sabem (e podem) ser produtivos – mas só quando os gestores das empresas para quem trabalham têm outras preocupações para além do seu próprio ordenado e do modelo de automóvel que vão trocar pelo BMW Série 7 ou pelo Mercedes Classe E que já possuem.

Comentários

Pedro Freire disse…
Bravo António! Subscrevo tudo o que escreveste e que, sabe-se lá porquê, nenhum jornalista/moderador tem a coragem de retorquir quando ouve alarvidades como essas.
Só tenho dúvidas sobre uma coisa: acho que nem com o teu desenho uma mente tão iluminada como a do senhor António Borges consegue perceber; porque, tal como os jumentos, as palas que tem nos olhos só o deixam olhar numa direcção - a dos "tais" para quem a troca de carro é sempre mais importante. Basta olhar para as nossas estradas e percebe-se a falta de produtividade...