A relação do Windows Phone com o mercado móvel tem mais semelhanças com a Apple do que pode à primeira vista parecer…
Em meados de 1994 estava eu a trabalhar no Público quando foi decidido criar o suplemento Computadores, para o qual eu escrevi até deixar o jornal em 1995 para lançar a Exame Informática.
Devido às circunstâncias da sua criação, a redação do
Público era totalmente baseada em computadores Macintosh, nomeadamente
Macintosh II e Macintosh Classic (sim, os tudo-em-um de 9’’!). A maioria das
pessoas adorava os seus Macs; muitos tinham com eles uma relação de amor-ódio;
e outras (como eu, admito), odiavam-nos.
Mas trava-se, acima de tudo, de ferramentas de trabalho.
Numa era pré-Internet, eram pouco mais do que máquinas de escrever
sofisticadas. Não me lembro de correr lá nada mais do que o Word e de aceder à
rede.
Apesar de poder dizer que “I’m a PC”, recomendei por
diversas vezes a aquisição de um Macintosh a quem na redação me vinha perguntar
qual a máquina que devia adquirir lá para casa. Tudo depende do dinheiro que se
quer/pode gastar e do objetivo a que se destina o equipamento. Mas lembro-me
também de um jornalista que decidiu mesmo comprar um PC – um Compaq, penso eu –
e que dias depois o foi entregar à loja.
A justificação que deu ficou-me na cabeça desde então. Foi
mais ou menos isto: “Se 100 contos [500 euros] é a diferença que tenho de dar
para ter a interface do Macintosh, então é isso que vou pagar”.
É bom lembrarmo-nos que estávamos ainda a mais de um ano do
lançamento do Windows 95. O Windows 3.11, que era o que se usava nos PCs da
altura, estava – admitamo-lo – a anos-luz do que a Apple já oferecia.
Interface, preço e aplicações
Muitos dos argumentos “Mac vs PC” mudaram, mas muitos deles
mantêm-se. Na lista do que se mantém está a diferença de preço médio entre o
que se paga por um Apple face a um PC com hardware semelhante – sendo que na
altura esta diferença era difícil de quantificar, porque os Macintosh usavam
processadores Motorola e uma arquitetura diferente, enquanto agora são
basicamente PCs com um BIOS diferente.
Um outro argumento recorrente, que hoje é muito menos
sensível do que há 20 anos, era o do software disponível: optar por um Mac
significava prescindir do acesso a uma biblioteca de software importante. Os
Mac eram os preferidos (e continuam a ser) para aplicações de design gráfico,
tratamento de imagem e outros nichos (música, por exemplo) mas, para tudo o
resto, o PC era intocável.
O facto de alguém, há 20 anos, preferir gastar mais para ter
um Macintosh mesmo sabendo que não ia poder correr uma grande parte do software
disponível para PCs demonstra bem o quanto a diferença de interface era então
significativa – e o quanto era valorizada por quem, podendo pagar a tal
diferença de preço, procurava sobretudo um produto fácil de usar.
O Windows Phone
Muitas pessoas hoje perguntam-me porque uso um Nokia Lumia
e, ainda sem me deixarem responder, acrescentam logo que “não tem tantas apps
como para estes [iPhone ou Android], pois não?”.
Confesso que, mesmo sem nunca ter tido um produto Apple (apesar
de ter trabalhado com imensos equipamentos da marca durante vários anos), só
agora é que compreendo verdadeiramente a paixão de quem não considera usar algo
que não tenha o símbolo da maçã.
É que a resposta à pergunta que me fazem é a mesma que
sempre ouvi ao longo dos anos quando perguntava aos meus amigos fãs da Apple
(poucos, admito…) porque não tinham comprado um PC. E a resposta era dupla: que
a interface do MacOS é muito superior ao Windows [mesmo que isso seja
discutível]; e a de que “há muito mais software para Windows, mas eu só uso
meia dúzia de aplicações e as que preciso, há para Mac”. Perante isto, de nada
vale argumentar – e quanto à diferença de preço, desde que quem paga a chamada
“Apple Tax” sinta que está a pagar por algo que vale a pena, ficamos todos
felizes.
Acontece que é isto exatamente o que eu digo hoje a quem me
pergunta porque insisto em usar o Windows Phone: porque a interface do Windows Phone
é muito superior ao iOS [mesmo que isso seja discutível] e porque “há muito
mais software para Android e iOS, mas eu só uso meia dúzia de aplicações e as
que preciso, há para Windows Phone”.
Claro que existe, depois, uma outra diferença: para eu ter o
que quero, não preciso de pagar mais. E assim ficamos todos felizes. ;-)
____________________________* Artigo publicado originalmente no website iClub.PT
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