A Microsoft tem um problema grave que se chama Internet Explorer 8 e que, sendo o browser de que a empresa (e os utilizadores do Windows) precisa neste momento, poderá também ser o browser que lhe fará perder a guerra dos browser para todo o sempre.
Eu explico melhor. Ao longo dos anos, a Microsoft mostrou algum desprezo pelos chamados Web Standards – as normas do mundo da Web que definem a forma como uma página deve ser programada e como os browsers a devem descodificar e apresentar no ecrã.
O que aconteceu até à versão 7 do Internet Explorer (IE7) foi que o IE tinha sempre uma forma algo idiossincrática de lidar com o código HTML de que as páginas Web são formadas. Contudo, dada a prevalência do browser da Microsoft – que ainda hoje ronda os 70%, considerando todas as versões, mas sobretudo as úiltimas (IE6 e IE7) – o que acontecia era que os webmasters alteravam as suas páginas, ainda que a contragosto, para funcionarem correctamente com o IE.
Isto é possível porque todos os browser possuem o chamado “user agent string” que identifica o browser perante o site. No limite, o site pode ter várias versões, cada uma optimizada para um browser diferente, tirando partido das capacidades de cada um, uma vez que o browser que o visitante usa é detectado pelo site.
Ao longo dos anos, muitos sites decidiam simplesmente “optimizar” o seu código para o IE, ou melhor, ignorar os Web Standards e assumir que o IE tinha a sua própria forma de fazer as coisas. O efeito secundário foi que browsers como o Opera, que sempre seguiram as normas à risca, eram prejudicados pois acabavam por exibir muitas páginas Web de forma estranha – o site estava optimizado para o IE e para mais nenhum outro browser.
Coma entrada em cena do Firefox, as coisas mudaram de figura. Pela primeira vez desde o desaparecimento do Netscape Navigator, o IE tinha concorrência – e uma concorrência que respeitava os standards da Web e, ao mesmo tempo, não parecia ter qualquer problema em exibir correctamente quaisquer páginas.
O que se passou em seguida – e tem sucedido ao longo dos últimos três anos – é que a maioria dos sites começou lentamente a alterar a sua postura e a preocupar-se menos com o IE e mais com o respeito pelos standards da Web.
O que muda com o IE8
Neste contexto, a Microsoft decidiu reprogramar substancialmente o Internet Explorer para o colocar tanto quanto possível ao nível do que é esperado em termos de respeito pelos Web Standards. O resultado é o IE8, actualmente ainda em versão beta, e que será o browser predefinido do novo Windows 7.
Até aqui, tudo bem: afinal, por pressão do mercado ou simples constatação de que tinha seguido um caminho errado, a Microsoft entrou finalmente no bom caminho, certo? Acontece que as coisas não são assim tão simples…
Quem já usou o IE8 descobriu certamente que a Web vista através deste browser não é propriamente o que seria de esperar… O problema, ironicamente (alguns chamar-lhe-ão “justiça poética”!), prende-se com o facto de o IE8 respeitar os standards da Web…
O que se passa então? O problema é que o IE8 continua a ser reconhecido pelos sites como… Internet Explorer. E quando um site que foi optimizado para as idisossincrasias das versões anteriores do IE surge perante o IE8, a nova versão do browser da Microsoft baralha-se e não apresenta as páginas como devia ser.
A ironia suprema é que para um browser como o Firefox, as mesma spáginas não representam qualquer problema: o site reconhece o browser visitante como “não IE” e apresenta a versão Stadard da página, que o Firefox – ou o Opera, ou o Safari – não tem problema em visualizar correctamente.
Ou seja, muito em virtude do seu passado de incumprimento, a Microsoft vê-se agora na ingrata posição de “preso por ter cão, preso por não ter”: já não está sequer em causa que a próxima versão do IE não respeite os standards da Web, mas é precisamente essa preocupação que irá fazer com que, nos primeiros tempos – meses, anos… – o IE8 pareça não só pior do que o IE7 como pior do que a concorrência.
Para muitos utilizadores, o que o IE8 irá oferecer de melhor face ao IE7 será negativamente compensado, na prática, pelos problemas na apresentação de páginas que é, afinal, a principal função de um browser.
No final, em vez de ser finalmente o melhor browser de sempre da Microsoft (e provavelmente será na mesma), o IE8 será a gota de água que irá levar muitos utilizadores a passarem a usar um browser concorrente.
Referências:
Compatibilidade IE/IE7: http://support.microsoft.com/kb/923196/pt
Modo de compatibilidade e actualização automática de sites no IE8: http://blogs.msdn.com/ie/archive/2008/12/03/compatibility-view-improvements-to-come-in-ie8.aspx
Web Standards: http://www.w3.org/QA/2002/04/Web-Quality
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