É legítimo que a sociedade tente encontrar explicações para a tragédia de Erfurt. Contudo, já começa a ser um bocadinho previsível que a “culpa” seja sempre dos videojogos. Ouvi esta manhã na TV que o PC que as autoridades alemãs apreenderam ao jovem Robert Steinhauser demonstrava que ele “era viciado em Counterstrike”, um popular “shooter” que se joga em rede.
Desconheço como é que a partir de uma instalação do Counterstrike num PC se deriva de imediato que o seu proprietário é “viciado” no jogo. Mas até admito que assim fosse.
O que me faz mais confusão é como é que as autoridades – e, já agora, a comunicação social em geral – não perdem a oportunidade para lançar a farpazita aos videojogos.
Por coincidência estou neste momento a ler um livro de Carl Sagan chamado Um Mundo Infestado de Demónios onde, a propósito de outras coisas igualmente graves, ele se interroga sobre o seguinte (cito de cor): ”porque é que se presume que os programas de TV violentos tornam as crianças violentas, quando o mais lógico é que crianças com predisposição à violência procurem programas violentos”?
É uma boa pergunta, que também devíamos fazer neste caso: foi o Counterstrike que tornou Robert Steinhauser violento, ou foi ele que procurou o Conterstrike para dar vazão às suas pulsões violentas?
Conheço imensa gente que joga Couterstrike, a começar por mim e pelos meus filhos, que nos divertimos todos na rede lá de casa – e não, não se preocupem, que não vou rebentar com a cabeça de ninguém da próxima vez que me apitarem num semáforo vermelho.
Se alguém não distingue a diferença entre “matar” um punhado de pixéis no ecrã e fazer o mesmo com armas verdadeiras contra pessoas verdadeiras (hummm, o que estariam a fazer as armas à mão de semear em caso de Robert…?), então é porque precisa de ajuda. E rapidamente – de preferência, antes de desatar aos tiros na rua.
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