Os computadores e as alterações climáticas

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De vez em quando, surgem estudos sobre a contribuição dos computadores para as alterações climáticas – seja a respeito da sua contribuição bruta para as emissões de CO2, seja pelo que permitem poupar em emissões, seja até pela possibilidade de doarmos a capacidade não aproveitada dos PCs para causas nobres, de computação distribuída.

Este estudo consegue abordar um pouco de tudo isto:

  1. Refere que a indústria informática no seu todo contribui com tanto CO2 para atmosfera como o transporte aéreo;
  2. Que os próprios computadores podem ser usados (através da virtualização, por exemplo), para poupar energia;
  3. E que uma forma de optimizar a utilização dos computadores é doar a sua capacidade não usada (CPU e GPU) a projectos de computação distribuída.

Sobre isto, ocorrem-me algumas coisas e nem todas são imediatamente evidentes.

A primeira é que – e isto gostaria de ver abordado neste ou noutro estudo – a contribuição líquida dos computadores para as emissões de CO2 é, provavelmente muito inferior à sua contribuição bruta pelo que estes permitem poupar em transportes, por exemplo.

Do teletrabalho às videoconferências, quantos milhões de quilómetros e milhares de toneladas de CO2 já se pouparam?

Por outro lado, a ideia de doar tempo de computador a projectos de computação distribuída é uma boa ideia mas… não é propriamente uma forma de dar algo sem nada em troca.

Isto porque os modernos processadores centrais (CPUs da Intel e AMD) e gráficos (GPUs da nVidia e da ATi/AMD) são capazes de reduzir automaticamente o seu consumo quando a sua capacidade de processamento não está a ser usada. Logo, o facto de um utilizador típico não usar mais do que uma fracção da capacidade do seu computador, não significa que isso seja mau e que uma forma de reduzir a sua pegada de carbono seja doar o que não usa a terceiros.

É fácil demonstrar isto num computador moderno: instale-se uma aplicação como o BOINC, adicionem-se alguns projectos para onde se pretenda contribuir e configure-se o software cliente.

Depois, é esperar para ver o que acontece quando não estamos a usar o computador. Caso o PC esteja configurado como o meu, é provável que as ventoinhas do CPU e da placa gráfica diminuam de velocidade quando não é preciso dissipar muito calor: mais actividade = mais consumo de energia = mais calor = maior velocidade das ventoinhas = mais ruído.

Se isso acontecer, observar-se-á um fenómeno curioso: quando o PC não está a ser usado, ou está a ser usado apenas para processamento de texto leve, consulta de email, etc., os projectos de computação distribuída irão aproveitar os ciclos do CPU e do GPU que não estão a ser usados.

Contudo, isso fará aumentar o desempenho dos processadores e, consequentemente, o seu consumo de energia e emissões de CO2. Algo que é imediatamente audível, com o PC a fazer tanto barulho como um aspirador…!

Quem disse que não há almoços grátis para ninguém, tinha razão.

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