O anúncio, ontem, da nova geração Xbox, suscitou as habituais reações da Internet – entre o hype, a desinformação e o “fanboyismo” pró e contra. Ou seja, mais ou menos aquilo a que assistimos após o anúncio da PS4, no passado dia 20 de Fevereiro…
Sobre o assunto, ocorrem-me algumas coisas, nem todas óbvias. Já lá vamos mas, entretanto, vale a pena começar por dizer que o dia de ontem foi tanto de “revelações” como de interrogações sem resposta.
A Microsoft criou uma FAQ onde são explicadas algumas coisas mas onde muitas ficam por esclarecer. Como garantir que a consola irá poder correr jogos usados mas sugerindo que haverá um “mas” – ou seja, a forma como isto poderá ser feito está ainda por explicar; ou afirmando que a consola não precisa de estar “sempre ligada à Internet” mas, ao mesmo tempo que “precisa” de ter essa ligação.
Outros pontos que não estão (ou não estavam, no momento em que escrevo isto) nesta FAQ foram entretanto esclarecidos, como o facto de o disco rígido da consola não ser amovível (o da Xbox 360 era), mas ser suportado armazenamento externo o que não só vai a dar ao mesmo como é ainda melhor, porque os discos da Xbox 360 eram (são) extremamente caros.
Três ecrãs e a cloud
Mas isto são peanuts. É giro para o pessoal se entreter mas é perfeitamente acessório. O que é então fundamental? O fundamental, quanto a mim, é perceber a forma como a Xbox One se integra na estratégia da Microsoft de “três ecrãs e a cloud” de que Ray Ozzie falou pela primeira vez faz precisamente este mês… quatro anos!
Nessa altura não era claro como é que a Microsoft pretendia implementar esta estratégia. A empresa não tinha ainda lançado o Windows Phone (seria apresentado no MWC em Fevereiro de 2010); a Xbox 360 era à data pouco mais do que “apenas” uma consola de jogos; o Windows 7 estava ainda um pouco longe (foi lançado a 22 de Julho de 2009 e disponibilizado ao público em geral no final de Outubro do mesmo ano); e a infraestrutura de cloud da Microsoft estava também ainda numa fase incipiente.
Fast Forward para Maio de 2013 e o que temos? Um sistema operativo (Windows 8) que está rapidamente a convergir para se tornar numa plataforma unificada e escalável capaz de servir diferentes classes de dispositivos (e de “ecrãs”) desde o pequeno telemóvel, ao tablet (categoria inexistente em 2009!), passando pelo PC mais tradicional e acabando… no televisor. E uma infraestrutura de cloud (quer ao nível do hardware, quer dos serviços que suporta) que ombreia com o que de melhor o mercado oferece.
A ironia é que quando a Xbox 360 surgiu, no final de 2005, a Microsoft posicionou-a firmemente como uma consola de jogos para jogadores. De resto, essa foi uma das razões encontradas para justificar a ausência de um leitor Blu-ray ou HD-DVD (este último, disponível apenas como opção) e posicionar o equipamento face à PS3 de uma Sony que, assumidamente, pretendia que a sua PlayStation fosse mais do que apenas uma consola de jogos.
Mas ao longo da carreira da Xbox 360, a Microsoft começou cada vez mais a reposicioná-la como sistema multimédia completo, acrescentando serviços e funcionalidades que a colocavam no centro da sala com o objetivo de servir mais do que os jogadores da família.
O futuro da nova geração
Quem tiver paciência para ver com a atenção a apresentação de ontem notará que houve muito mais espaço dedicado a explicar as funcionalidades da consola que não têm a ver com jogos e relativamente pouco no que diz respeito a jogos.
Creio que a explicação para isto tem um pouco a ver com o timing – a E3, onde a Microsoft irá certamente permitir aos jogadores o primeiro contacto real com a consola, está a pouco mais de duas semanas de distância – mas também com a própria filosofia da Xbox One. Se em 2009 a Microsoft fazia questão em dizer que tinha uma consola para os gamers, agora faz questão de afirmar a polivalência da nova proposta: continua a ser para gamers, mas é muito mais do que isso.
Aquilo que vi até agora – e que foi o que todos nós vimos ontem no vídeo de apresentação, pois não tenho qualquer inside information sobre isto – não permite tirar conclusões definitivas sobre se a Xbox One será vista como um compromisso por parte dos jogadores mais hardcore ou se, pelo contrário, será suficiente para agradar a todos.
Alguns dos pontos negativos, como é caso da Xbox One não correr jogos da Xbox 360, podem também ser vistos como positivos: significa que a consola não tem complexidade nem os custos adicionais para suportar uma funcionalidade que, passado uns meses, já ninguém se lembra – como aliás aconteceu com a geração corrente, em que a retro-compatibilidade começou por ser um argumento de venda e acabou por ser abandonada ao longo do tempo quer pela Sony, quer pela Microsoft.
Já outras vertentes do desenvolvimento da consola deixam imensas interrogações. Por exemplo, o facto de a cloud da Microsoft poder ser usada pelos programadores para correr algumas funcionalidades, libertando assim capacidade de processamento interna parece-me extremamente promissora, mas o mais certo é começarmos a ver essa possibilidade a ser explorada nos jogos de segunda geração e não nos que irão estar disponíveis no lançamento. Outro aspeto potencialmente interessante: se o sistema operativo da consola é na verdade uma versão do Windows 8, será curioso ver como (e se) isso será rentabilizado na criação de versões do mesmo jogo para PC e plataformas móveis.
Perguntas (ainda) sem resposta
Claro que no final, por muito que a Xbox One seja mais do que uma simples consola, será a sua capacidade de correr jogos de nova geração – e a disponibilidade de uma biblioteca de jogos apetecível – que selará o seu destino.
No entanto, tal como se viu na geração corrente, estas consolas (a Xbox One e a PS4) não estão numa corrida dos 100 metros, mas numa maratona. As vendas nos primeiros meses serão boas para fazer manchetes dos blogs mas não serão indicativas do sucesso a longo prazo da consola.
É preciso olhar para além do nome (irrelevante), da estética da consola (idem) ou até das suas especificações de hardware (ibidem) para encontrar o que irá ser importante no arranque comercial da Xbox One: que jogos estarão disponíveis no lançamento? Quanto irá custar? Como será a gestão dos jogos em 2.ª mão? Como funciona caso eu não tenha uma ligação à Internet?
Para quem está fora dos EUA há ainda mais questões, porque muitos dos serviços disponíveis para os utilizadores norte-americanos não são acessíveis para o resto do mundo – e certamente é esse o caso no que diz respeito aos consumidores portugueses.
Contudo, vou até mais longe: a esmagadora maioria dos serviços disponíveis na Xbox, incluindo os que estão disponíveis em todas as geografias, como o YouTube ou o Internet Explorer, só podem ser usados por quem pague uma assinatura Xbox Live Gold. E isto é muito difícil de engolir por quem quer que já tenha pago algumas centenas de euros numa consola.
Neste sentido, uma das ideias que têm sido avançadas (mas até agora não confirmadas) de que uma das formas de pagar a Xbox One poderá ser através de uma subscrição – um preço reduzido em troca de compromisso de assinatura do serviço Xbox Live Gold por um determinado período de tempo – parece-me que faria sentido.
Voltarei ao assunto após a E3 e quando a Microsoft tiver mais respostas para estas perguntas. Entretanto aqui fica o que gostei e não gostei sobre a Xbox One baseado no que vi ontem na apresentação.
Gostei
Da estética
Das especificações
Do novo Kinect e do facto de fazer parte da consola
Das possibilidades abertas pela cloud
Não gostei
Da ênfase em serviços que não sei se/quando estarão disponíveis em Portugal
De não ter ainda visto nada de especial em termos de jogos
Fico na dúvida
Preço/modalidades de compra
Jogos em segunda mão
Ligação à Internet
Leituras recomendadas:
http://www.wired.com/gadgetlab/2013/05/xbox-one/
http://winsupersite.com/xbox/xbox-one-preview
http://gizmodo.com/xbox-one-all-the-nerdy-details-you-dont-know-yet-509381624
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