O último Windows *


O Windows 10 é uma má notícia para todos os que ao longo dos últimos anos têm vaticinado que “a Microsoft está acabada”. Felizmente, é uma boa notícia para todos os outros…A propósito do lançamento do Windows 8, o então CEO da Microsoft, Steve Ballmer, disse que estávamos na presença de um lançamento tão importante para a empresa como o fora o Windows 95.

Três anos depois, a profecia não cumprida de Ballmer vai tornar-se realidade com o Windows 10. E, muito embora tudo dependa da forma como a estratégia da Microsoft for executada (no mundo dos negócios, mas sobretudo no da tecnologia, a execução é tudo), estou disposto a acreditar que estamos – finalmente – na presença de um lançamento ao nível do que foi o do Windows 95, há quase 20 anos.
 
Há boas razões para isso, mas deixo-vos aqui apenas cinco: 
  1. A estratégia da atualização gratuita. A Microsoft sabe que o tempo urge e que quanto mais depressa criar uma grande base instalada de Windows 10 mais depressa irá convencer os criadores de software – desde pequenos programadores solitários até às grandes software-houses – a subirem a bordo, melhor. Por isso, a ideia de oferecer o Windows 10 a quem quer tenha hoje o Windows 7 ou 8/8.1, inclusive, só foi surpreendente para quem não percebeu que a Microsoft teria a perder se fizesse o contrário muito mais do que os dólares que deixará de ganhar com esta abordagem.
  2. Um só Windows. Ao contrário da Google (Android/Chrome OS) e da Apple (MacOS/iOS), a Microsoft tem uma estratégia de um só sistema operativo para todos os dispositivos. Pode não parecer importante, mas é, nomeadamente porque permite as razões 3. e 4.
  3. As apps universais. A pressa da Microsoft em que todos adotem o Windows 10 é tanto mais crítica quanto esta é a versão que irá fazer pelo estratégia mobile da empresa o que o Windows 8 devia ter feito mas não fez. É que enquanto aquele pretendeu unificar a interface do Windows em todos os dispositivos, o Windows 10 leva a ideia mais longe: mais do que a interface, será o mesmo Windows que teremos em desktops, notebooks, tablets, smartphones, na Xbox One e até na Internet of Things, com o suporte para Raspberry Pi. O que é que isto significa? Significa que quem programa pode desenvolver uma aplicação que funciona tão bem num computador de secretária como num smartphone sem que tenha de gastar o dobro dos recursos no seu desenvolvimento.
  4. Continuum. O Windows 8 foi claramente um sistema operativo à espera do hardware que dele tirasse partido. Mas, nos últimos três anos, os principais fabricantes mundiais trouxeram-nos finalmente máquinas “convertíveis” que conjugam da melhor forma funcionalidades de um notebook com os aspetos práticos de um tablet. Uma funcionalidade do Windows 10 chamada Continuum permite que estas máquinas funcionem com o familiar desktop quando estão a ser usadas com um teclado físico e como um tablet com a chamada nova “interface moderna” quando se libertam do teclado. Mas a mesma funcionalidade irá permitir ainda – numa nova geração de dispositivos móveis que chegará apenas no Outono – que um smartphone possa ser ligado a um teclado, rato e monitor e que as suas “apps universais”, como o novo Office 2016 possam ser usadas como se de repente tirássemos um desktop do bolso.
  5. Windows como um serviço. É possível que a ideia mais revolucionária de todas não seja o Windows 10 em si mesmo, mas o facto de a Microsoft aproveitar esta oportunidade para transformar a forma como olhamos para o sistema operativo mais popular de sempre: esta é provavelmente a última versão do Windows. A partir de agora, o Windows passará a ser atualizado continuamente, mas não como até agora. Por um lado, estas serão atualizações automáticas e mandatórias (só os utilizadores empresariais poderão impedir que o Windows seja atualizado automaticamente); por outro, a Microsoft não se limitará a oferecer atualizações para correção de bugs e problemas de segurança. Pelo contrário, o Windows receberá continuamente melhorias que vão desde novos drivers até mais e melhores funcionalidades. E deixa de fazer sentido pensar em novas versões.
Com o que atrás ficou dito, poderá parecer que a Microsoft desistiu simplesmente de ganhar dinheiro com o Windows, de “mugir” aquela que foi até hoje a sua principal “cash cow”. Afinal, prepara-se para o oferecer a milhões de utilizadores em todo o mundo – estima-se em mais de mil milhões o potencial de máquinas que podem receber esta atualização ao longo dos próximos doze meses – e para deixar de vender upgrades.
 
Acontece porém que desde sempre que a maior parte das pessoas não compra novas versões do Windows: na esmagadora maioria dos casos, os utilizadores acedem a uma nova versão do Windows comprando… um computador novo. E, pelo menos por enquanto, não há notícias de que a Microsoft tenha decidido oferecer o Windows aos fabricantes.
 
Mas qualquer que seja a estratégia futura, uma coisa é certa: esta já não é a mesma Microsoft que lançou o Windows 8. Esta é a Microsoft que lançou o último Windows.
 
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* Artigo publicado originalmente no Wintech

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