Dez coisas que o Windows Phone podia ensinar ao Android *

A minha experiência com smartphones foi feita sobretudo com máquinas Nokia e… Windows Phone. Foi assim até meados de 2018, quando tive de me render à evidência: havia aplicações que queria usar e que já não funcionavam. Usei Android desde os tempos do Gingerbread mas a primeira vez que fiz um esforço real para mudar para Android surgiu só no final de 2016. Mas, apenas dois meses depois, desisti e voltei ao Windows Phone como a minha máquina principal – algo que se manteve durante mais de um ano até que, finalmente, desisti de vez. Hoje, a minha máquina é um Nokia 8 com Android Pie.

Como costumo dizer sobre os computadores em geral, “as pessoas não compram sistemas operativos, mas sim ferramentas que resolvam os seus problemas” e, neste aspeto, o Windows Phone deixou de poder resolver os meus problemas. Porque no mundo da informática os problemas resolvem-se com software e as aplicações no Windows Phone simplesmente ou já não existem (ou nunca existiram) ou deixaram de funcionar. Mas aquilo que me fez, no início de 2017, voltar a usar Windows Phone ainda durante mais de um ano continua a ser o que hoje me irrita no Android. Como que se costuma dizer, “o diabo está nos detalhes” e o sistema operativo da Google continua a ser uma fonte diária de irritação.

Este é um artigo em que explico as minhas frustrações com o Android e manifesto a minha perplexidade por ver que algumas funcionalidades (e, noutros casos, simples pormenores) do Windows Phone não terem sido copiadas para a mais recente versão do Android. Talvez no futuro… Podemos sempre sonhar, certo?

Estes são os 10 aspetos onde, para mim, o Windows Phone batia o Android aos pontos (e sim, há muito mais do que uma dezena de coisas em que o Android é melhor… – mas este não é um artigo sobre isso):


1. Interface


Não há volta a dar e nem sequer vou perder muito tempo com este ponto: a interface do Windows Phone era (e é) simplesmente genial. Ao contrário da Google, que se limitou a copiar (mal) a interface do iOS, a Microsoft criou algo de raiz que simplesmente faz sentido para um dispositivo móvel, com a vantagem de escalar de forma perfeita para qualquer tamanho de ecrã.

2. Teclado


O teclado do Android foi uma das maiores fontes de frustração quando comecei a usá-lo em 2016. Agora está bastante melhor, mas ainda não está à altura do Windows Phone. Começa por ser menos preciso no toque das teclas e ter sugestões de palavras menos acertadas no contexto da escrita. Depois falha também em alguns detalhes: no Windows Phone, quando apagamos sucessivas palavras com a tecla de Backspace, uns segundos depois a tecla começa a apagar palavras inteiras (volta a apagar apenas letras caso façamos uma pausa), o que é extremamente prático. Outras coisas práticas? O facto de termos sempre a opção de colocar .PT a par de .COM em endereços de websites bem como um “long press” em algumas teclas (caso do ponto final) mostrar uma caixa de opções de símbolos que fica “sticky” até selecionarmos o símbolo pretendido. Por último, mas não menos importante: o teclado do Windows Phone tem um cursor. E depois de nos habituarmos a usá-lo, é difícil não o ter.

3. Hardware

Tradicionalmente, os smartphones Lumia tinham funcionalidades de hardware que são hoje cada vez mais raras ou mesmo inexistentes mas que, para mim, continuam interessantes: é o caso da bateria amovível ou do botão dedicado para a câmara fotográfica. Felizmente, o meu Nokia 8 ainda tem algumas das funcionalidades hoje perdidas e que já quase não se encontram em qualquer smartphone, como é o caso dos botões físicos (sim, eu sei que estou a ficar velho…) e da tomada para auscultadores de 3.5mm.
De tudo isto, o que tenho mais pena é o desaparecimento praticamente total das baterias amovíveis; e só há uma coisa de que não estou disposto a abdicar: o suporte de cartão microSD para armazenamento adicional.

4. Bluetooth

A minha experiência com a stack Bluetooth do Android tem aspetos positivos e negativos, especialmente no carro. Há coisas que gosto muito mais e que faltavam no Windows Phone – como a possibilidade de definir que determinado dispositivo só está emparelhado para música, mas não para fazer/receber chamadas. Também gosto da forma como a voz do GPS (no Here WeGo) faz com que a música via Spotify seja atenuada de forma a ficar em primeiro plano sempre que necessário.

No entanto, há coisas que não funcionam bem. Por exemplo, no meu carro, mesmo depois de emparelhar o smartphone, a voz do Here WeGo não se ouve caso esteja no rádio, algo que funcionava perfeitamente no Windows Phone com o Microsoft Maps. Ou seja, para ter o GPS com os mapas a funcionar e música ao mesmo tempo, não posso ouvir rádio – tenho de estar a ouvir música pelo Bluetooth.

Outra coisa de que sinto falta: no Windows Phone, o Bluetooth “lembra-se” do volume de som em que tínhamos determinado dispositivo da última vez que o usámos, quando voltamos a utilizá-lo.

5. Mapas


Por falar em mapas. Uso no Android o Here WeGo – a razão é que é o único, gratuito, que encontrei que me deixa descarregar mapas de países inteiros para dentro do cartão microSD, evitando problemas caso tente navegar num local onde tenho GPS mas, por alguma
razão, não tenho conectividade à rede (e sim, já me aconteceu). Funcionalmente, é muito parecido com o Microsoft Maps (por sua vez, ambos parecidos com o defunto Nokia Drive), contudo, há um detalhe com que faz que todos os dias em que uso o
GPS me lembre da implementação no Windows Phone: quer eu esteja ligado ou não ao sistema Bluetooth do carro, o Microsoft Maps permitia-me definir se a voz da navegação é dada via Bluetooth ou diretamente pelos altifalantes do smartphone. Mais: permite também definir de forma independente o volume de som da voz dos mapas face a todas as outras apps.

6. Wi-Fi

No Windows Phone, posso desligar o Wi-Fi para evitar gastar bateria (quando sei que não irei poder ligar-me a qualquer ponto de acesso) mas definir que ele se voltará a ligar automaticamente após um determinado período de tempo – algo que evita gastar dados
3G/4G acidentalmente. Ah, e no Android Pie, a Google tornou mais complicado ligarmos-nos a redes Wi-Fi escondidas (sem “broadcast” do SSID).

7. Dialer e Contactos

O “dialer” do Windows Phone tem um gravador de chamadas nativo (todos os que encontrei como apps para o Android simplesmente não funcionam no Nokia 8); os Contactos permitem a integração na mesma ficha dos contactos importados diretamente do Skype, Twitter, Linkedin e Facebook (para dizer a verdade, nas últimas iterações do Windows Phone, estas funcionalidades deixaram de funcionar); a foto do Facebook pode ser usada automaticamente.

Contactos duplicados? Não é preciso ir à procura de uma app para resolver isso, porque é fácil gerir a duplicação de contactos diretamente.

8. Updates e segurança


Uma das vantagens do Windows Phone (que é, de resto, também umas das vantagens do iOS) é que a Microsoft garantia atualizações de segurança regulares. Não só a maioria – mas não todos, é verdade – dos terminais receberam atualizações do sistema operativo até o sistema operativo deixar de ser atualizado, como o mesmo acontecia para as atualizações de segurança. Se ainda hoje mantivesse o meu Windows Phone, ele iria receber atualizações de segurança até 2020. Podia já não servir para nada, mas pelo menos estava seguro! :-)

9. Software

Esta razão pode parecer estranha num ecossistema que sempre teve problemas de falta de aplicações – e, quando as tinha, surgiam muitas vezes tarde e até sem todas as funcionalidades noutras plataformas – mas faz sentido para o meu perfil de utilização.
Não uso jogos e utilizo o smartphone sobretudo como ferramenta de trabalho. Nesse sentido, sinto falta das já referidas funcionalidades do teclado, dialer, gestor de contactos e mapas. E do leitor de música, já agora (que ia buscar capas automaticamente à Web para álbuns que eu simplesmente tinha no cartão em pastas separadas, sem tags nem nada). Mas do que sinto mais falta é da forma como o calendário e, sobretudo, o gestor de email integrado funcionavam. Incrivelmente, nem o Outlook que a Microsoft fez para Android é tão bom. Talvez no futuro o seja, mas não para já.

10. Os detalhes

Há imensos detalhes que adorava no Windows Phone e que sinto falta no Android. Por exemplo: quando, à noite, desligava o smartphone (algo que costumo fazer com frequência), ele “despedia-se” com um literal “Adeus!” e uma última mensagem lembrando-me caso no dia seguinte tivesse um compromisso ou reunião – informação que ele ia buscar ao calendário.

No Windows Phone, o “Modo Avião” desliga TODOS os rádios. E quando digo todos, obviamente isso inclui o GPS. No Android não, tenho de desligar o GPS manualmente. Porquê? Porque a Google ganha dinheiro sabendo onde estamos, sempre.

A gestão de bateria, no Windows Phone, permite determinar qualquer valor de percentagem abaixo do qual é ativado o modo de poupança; no Android, esse limiar está predefinido nos 15% e não pode ser alterado.


Ao usarmos o gestor de ficheiros, as pastas mostradas são apenas as que fazem sentido – imagens, música, downloads, etc. A primeira vez que usei o gestor de ficheiros do Android apanhei um susto e tive de ir ao Google para perceber qual era a pasta correta para o que eu precisava.

No Edge, o browser predefinido do Windows Phone, a barra de endereços/busca fica em baixo e não em cima, o que faz muito mais sentido, sobretudo numa altura em que os telemóveis são cada vez maiores – e, por incrível que pareça, nem o Edge para Android oferece a mesma funcionalidade.

Conclusão

Não tenho dúvidas de que tinha chegado o momento de mudar para Android – para a maioria das pessoas, esse momento até já surgiu muito antes de mim – mas isso não significa que o sistema operativo da Google seja perfeito. Sei também que muitos utilizadores mais experientes me dirão que muito do que digo é problema de uma app específica que eu uso, ou que algo poderia ser resolvido usando esta ou aquela app. Mas, no final, o que sinto falta é… de tudo: da interface, dos detalhes, do hardware, da forma integrada como a informação era gerida. Para mim, tudo isso junto serviu para que, durante muito tempo, pudesse ignorar que determinada app não existia ou não funcionava tão bem como noutras plataformas.

Penso que o mundo "mobile" ficou pior por a Microsoft não ter conseguido massa crítica para a sua visão sobre o que seria o melhor sistema operativo para dispositivos móveis. Resta esperar que a concorrência tenha o bom senso de copiar o melhor daquilo que ficou para a história como uma bela aposta falhada.

Adeus Windows Phone. Foi bom enquanto durou.
_________________________________

* Artigo publicado originalmente no site Aberto Até de Madrugada em 16/01/2019

Comentários