USB-C: a mãe de todos os carregadores?

 

Foto: Karolina Grabowska: https://www.pexels.com/photo/two-phone-chargers-5208832/

O facto de o Parlamento Europeu e os países da União Europeia terem chegado a acordo para impor aos fabricantes de equipamentos eletrónicos um “carregador comum” até ao final de 2024 é uma excelente notícia para os consumidores mas também para o ambiente.

A racionalização e normalização da forma como estes equipamentos são carregados (estamos a falar de dispositivos autónomos e, como tal, equipados com baterias recarregáveis, desde smartphones e colunas Bluetooth até computador portáteis) é potencialmente benéfica para toda a gente, exceto para as empresas que geram lucros chorudos através do licenciamento de interfaces proprietárias.

No entanto, a forma como a UE decidiu tornar pública esta notícia levantou ao mesmo tempo algumas questões por parte dos utilizadores, como tenho visto sob a forma de comentários à notícia (veja-se a thread do anúncio do Parlamento Europeu no Facebook…), que se interrogam se o facto de irem ficar subitamente com carregadores obsoletos não irá também criar, pelo menos numa primeira fase, um problema de reciclagem e de desperdício.

A resposta é sim… mas apenas em alguns casos. Porque o que o PE e a UE fizeram não foi propriamente impor um novo “carregador” mas sim uma nova interface de carregamento (USB-C), o que não é a mesma coisa. Na prática, apenas os carregadores que tenham já um cabo integrado (isto é, inamovível) de outro tipo, sendo o caso mais comum os cabos com terminação microUSB, é que deixarão de poder ser usados.

Pelo contrário, qualquer carregador que possua, não um cabo integrado mas uma porta USB (USB-A ou USB-C), poderá ser facilmente reutilizado, uma vez que bastará para isso adquirir um cabo USB-C compatível. Estes carregadores sem cabo podem, de resto, ser usados até com dispositivos não-USB, como é o caso dos smartphones Apple, que utilizam a interface proprietária (e obsoleta) Lightning, bastando para tal trocaram apenas o cabo usado.

A principal restrição prende-se com os carregadores menos potentes face ao carregamento de dispositivos como computadores portáteis, uma vez que aqui não bastará apenas encontrarmos a interface física correta, mas também a potência necessária.

No entanto, o contrário é verdade: através do protocolo USB Power Delivery, um carregador USB-C tem o potencial de oferecer voltagem até 48 volts e potência até 240 watts; e estes carregadores de elevada potência e voltagem podem igualmente ser usados para o carregamento de dispositivos USB-C com requisitos mais modestos.

Um último ponto, que ainda não foi abordado, é o do carregamento sem fios. Esta iniciativa legislativa, que deverá ser em breve transformada em diretiva que os países membros da União Europeia terão de integrar no seu ordenamento jurídico, não é omissa no que diz respeito aos dispositivos com carregamento sem fios. Pelo contrário, indica explicitamente que para acompanhar as tecnologias mais recentes, a Comissão pode adaptar o âmbito de aplicação da diretiva, nomeadamente no que se refere às soluções de carregamento sem fios.

No entanto, as soluções sem fios que temos tido até agora só fazem sentido para alguns tipos de dispositivos e, mesmo nesse caso, na esmagadora das vezes, esses equipamentos continuam a oferecer uma interface física de carregamento como alternativa. Por outro lado, dispositivos que carecem de mais potência, como é o caso dos computadores portáteis, irão sempre necessitar de ligações físicas.

Não deveria ser necessário falar disto, mas como já encontrei também dúvidas sobre o tema nas redes sociais, cá vai: qualquer dispositivo que possua um sistema de alimentação que obrigue à sua ligação direta à tomada (impressoras, monitores, computadores de secretária, etc.) está obviamente fora do âmbito desta iniciativa.

Edit: o meu amigo Pedro Fonseca chamou-me a atenção para o facto de que até nos EUA já se considera seguir a UE neste tema.

Anúncio formal: https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/society/20220413STO27211/usb-c-sera-o-carregador-comum-da-ue-em-2024

Conferência de imprensa: https://multimedia.europarl.europa.eu/en/webstreaming/press-conference-by-alex-agius-saliba-rapporteur-on-outcome-of-trilogue-on-common-charger_20220607-1230-SPECIAL-PRESSER

Relatório/parecer da ECOS sobre o tema: https://ecostandard.org/wp-content/uploads/2021/12/ECOS-Common-charger-initiative.pdf 

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