A caminho do Windows 7:
como agradar a Gregos e Troianos

O blog oficial da Microsoft Engineering Windows 7 dá-nos uma visão muito interessante sobre a forma como a equipa de desenvolvimento da próxima versão do Windows recolhe feedback dos utilizadores e, mais importante ainda, interpreta esse mesmo feedback no sentido de fazer evoluir o sistema operativo mais popular do mundo.

Dois tópicos recentes discutem a interface do utilizador no que diz respeito a Starting, Launching, and Switching. Vale a pena espreitar aqui e aqui (este último, fresquinho de ontem).

Uma das coisas interessantes de verificar - neste como noutros tópicos deste blog - é que o Windows representa coisas diferentes para diferentes pessoas. E que coisas úteis para uns são aborrecidas para outros e vice-versa; ou ainda que funcionalidades absolutamente óbvias do Windows para milhões de pessoas são absolutamente obscuras para outras, que nunca as usaram.

Tudo isto coloca sérios problemas do ponto de vista da programação (como resolver um problema sem criar outro, como agradar a uns sem desgradar a outros) e mostra bem como é difícil estabelecer equilíbrios entre o que os utilizadores pretendem - ou até descobrir o que é que eles gostariam mas não sabem que precisam.

Um tópico recente (clique na imagem para a ampliar) debruça-se sobre algo que, para mim, não é inteiramente surpreendente, pois já observei o fenómeno por diversas vezes, mas que não deixa de ser interessante dada a escala a que ocorre: o facto de que uma elevada percentagem de utilizadores usa uma resolução inferior à resolução nativa do seu ecrã LCD - no caso de pessoas com ecrãs com uma resolução nativa de 1600x1200, essa percentagem é de 68%!

Isto é algo que requer alguma contextualização. Quando praticamente não havia ecrãs LCD, este seria um dado irrelevante pois num CRT (os velhos monitores com cinescópios) apenas existe o conceito de resolução máxima e não de resolução nativa: é possível usar qualquer resolução abaixo da resolução máxima sem perda de qualidade. Na verdade, em certos casos (como aqueles em que a resolução máxima só é atingida com uma baixa taxa de actualização, inferior a 72 Hz) é até conveniente usar uma resolução inferior à resolução máxima, criando um melhor equilíbrio entre taxa de actualização e resolução.

Ora acontece que no caso dos LCDs, a taxa de actualização é irrelevante e a qualidade de imagem só é obtida na resolução nativa. A utilização de qualquer resolução inferior à resolução nativa provoca falta de nitidez, sobretudo no texto, e leva os olhos (o cérebro, na verdade...) a tentarem sucessivamente focar algo que, sendo impossível, provoca cansaço visual.

A questão que se coloca então é saber porque razão uma tão grande percentagem de utilizadores utiliza uma resolução no seu monitor LCD que não é a ideal. Há várias respostas possíveis. Pode ter sido por acaso... Mas também pode ter sido propositdamente, porque o utilizador alterou a resolução para poder ver os ícones e o texto no ecrã com maiores dimensões.

Ora acontece que o Windows permite ajustar quer o texto da interface, quer o tamanho dos ícones sem mexer na resolução! Chama-se a isto "ajustar o tamanho do tipo de letra"/"dimensionamento PPP", no Windows Vista; ou simplesmente "Tamanho do tipo de letra" no Windows XP. E em ambos os casos são opções acessíveis a partir do mesmo menu de opções onde foi alterada a resolução do ecrã.

Coloca-se então a questão: porque não usar esta funcionalidade e, em vez disso, alterar a resolução? É uma boa pergunta... À qual se tenta dar resposta aqui, aqui e aqui.

Mas o essencial é isto: desenvolver uma aplicação - neste caso, um sistema operativo - é sempre algo que requer um equilíbrio delicado e onde é difícil agradar a Gregos e Troianos.

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