Acabo de escrever um livro sobre o Windows 8, o meu quarto livro sobre o Windows – o primeiro foi em 2001, sobre o Windows XP. O que posso partilhar convosco é que não foi uma experiência fácil.
Em circunstâncias normais, escrever um livro sobre um sistema operativo que uso todos os dias (sou utilizador do Windows desde a versão 1.0) não costuma ser difícil. Mas o Windows 8 é um caso diferente. Primeiro, porque não pude usar a minha máquina de trabalho normal; depois porque, ironicamente, quanto mais conhecemos o Windows, maior será o impacto e a sensação de estranheza que temos quando nos confrontamos pela primeira vez com o Windows 8. Não vou desperdiçar as próximas linhas especulando sobre o que será o ritmo da adopção do Windows 8, o futuro da Microsoft e como ambas as coisas estão (ou não) ligadas. A Web está cheia de artigos desses.O que vos trago é a minha experiência de utilização do Windows 8 desde que saiu a primeira versão beta pública – há mais de um ano – e desde que tive acesso à versão final, em Agosto passado. E claro que vale sempre a pena recordar duas coisas: que isto é a minha opinião; e que a minha empresa tem a Microsoft como um dos clientes. Dito isto, vamos então ao que interessa.
Sempre que a Microsoft lança uma nova versão do Windows há uma pequena percentagem de pessoas (entre elas eu e, provavelmente, vocês) que vai a correr instalar a actualização no seu PC. Mas a maioria das pessoas toma apenas contacto com a nova versão no momento de comprar um novo computador. Ora, o Windows 8 é a primeira versão do Windows desde a 1.0 que, na maioria dos casos, não vale a pena usar para actualizar um PC antigo – a menos que esteja equipado com um ecrã táctil.
Isto porque, como já todos devem ter percebido, o Windows 8 é um sistema operativo com dupla personalidade, que suporta aplicações antigas numa interface (quase) igual à do Windows 7 mas concebido com base num conceito de interface completamente novo e que foi ensaiado inicialmente no Windows Phone 7. Enquanto o Windows 7 era um sistema operativo com um razoável suporte táctil mas tinha sido concebido a pensar sobretudo na utilização com rato e teclado, o Windows 8 é um sistema operativo pensado para utilização com ecrã táctil… e cuja utilização com rato e teclado requer aprendizagem a habituação.
A razão para isto é simples: a Microsoft quer ter uma mesma interface (e, de certa forma, até o mesmo sistema operativo) nos smartphones, nos tablets, nos computadores e até na televisão lá de casa (através da Xbox 360). E, para isso, tinha de reinventar o Windows.
Aquilo que eu senti com o Windows 8 é o que me parece ser a experiência da maioria dos chamados “power users”: o primeiro impacto causa uma tremenda estranheza e frustração. Contudo, à medida a que nos habituamos, tudo se torna mais natural e até mais rápido. Utilizadores menos habituados ao Windows tenderão a adoptar mais facilmente a nova interface do Windows 8, mesmo em equipamentos sem ecrã táctil – a facilidade com que a minha filha mais nova, que tem 9 anos, usa o Windows 8, é um bom exemplo disso.
De certa forma, lembra-me o que sucedeu há uns anos com o Office 2007 e a troca dos tradicionais menus pelo chamado “Friso”: os “power users” foram os que mais se queixaram porque quem tinha apenas um conhecimento superficial de utilização do Office descobriu que conseguia fazer muito mais com a nova Interface; e, passado algum tempo, já ninguém se queixava – nem mesmo os “power users”.
O que se está a passar com o Windows 8 é muito semelhante: as primeiras reviews (dos jornalistas e bloggers, na sua grande maioria “power users” de Windows) deixam transpirar a luta contra as novas convenções da interface e a frustração de descobrir que nada funciona como era suposto; mas o entusiasmo dos utilizadores comuns, que transparece em comentários nos fóruns e até nas inesperadas enchentes nas lojas para comprar tablets com Windows 8, deixa antever que a revolução da Microsoft afinal pode ter muito mais adeptos do que se esperava.
Pessoalmente, continuo céptico sobre as vantagens de usar o novo Windows numa máquina sem ecrã táctil com Windows 7. Mas a verdade é que o Windows 8 não é um sistema operativo para o passado e, em muitos casos, nem sequer para o presente: é o primeiro sistema operativo da Microsoft apontado certeiramente para o futuro.
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* Artigo publicado originalmente no i-Tech.
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