Os EVs são coisas "só para ricos"?

 


Ouço e leio com frequência comentários a notícias sobre carros elétricos (EVs) por parte de pessoas que parecem zangadas. Estão zangadas porque vão deixar de poder comprar carros a combustão, zangadas porque dizem que os EVs poluem mais, zangadas porque são muito caros e "só os ricos" os podem comprar. Eu sei lá...

Vou deixar de lado as duas primeiras razões para estas pessoas andarem tão zangadas  a primeira é uma inevitabilidade e, de resto, o mundo tem 12 anos (!) para se adaptar, o que é mais do que suficiente; a segunda é só uma falácia 1000 vezes repetida pelo lobby petrolífero – para me concentrar na última.

Já aqui escrevi sobre o facto de os EVs só serem comparativamente caros quando falamos das gamas mais baixas, sendo que o contrário é verdade se nos concentrarmos nos automóveis mais caros. Mas não é sobre isso que quero falar agora. O que quero abordar é esta ideia de que "só os ricos" podem comprar carros elétricos. Mas vamos por partes.

1. Ninguém quer obrigar ninguém a comprar um EV (bem, pelo menos para já!). E certamente não serei eu a apontar o dedo a quem só tem dinheiro para comprar um Clio e tem, por isso, que passar ao lado de um Zoe (ou qualquer outro par de marcas/modelos que queiram usar como exemplo). Quando ambos custarem o mesmo, ou quase, a conversa será outra.

2. Contudo, em Portugal vendem-se, todos os anos, milhares de automóveis a combustão com preços acima dos 30.000 euros. E, surpresa!, os BMW, Audi e Mercedes que vemos por aí a rolar todos os dias não são comprados por "ricos", mas sim, muitos deles, por empresas que os usam para evitar pagar decentemente aos seus quadros médios. Seria fantástico se as empresas começassem a fazer continhas para descobrir que "oferecer" um BMW aos seus quadros fica bem mais caro do que um Tesla (ou outro EV qualquer) de preço semelhante. E até ficaria melhor num press-release, nem que fosse para green washing.

3. Mas se é verdade que não aponto o dedo a quem compra um Clio em vez de um Zoe, já não são tão benevolente com outras pessoas. Por exemplo, conheço quem viva numa moradia, tenha uma sofisticada instalação elétrica com painéis solares e, mesmo assim, decidiu comprar um BMW porque "um carro a sério tem que ter um motor a combustão". E o que dizer dos milhares de SUVs diesel que (ainda) se vendem em Portugal?

Podia continuar, mas não vale a pena. Até porque sei qual a verdadeira razão pela qual muitas pessoas ficam tão crispadas quando se trata de automóveis elétricos: gostam dos seus carros com motores a combustão e não querem mudar. Tão simples como isto. E, por isso, agarram-se a tudo o que podem para justificar a sua opção.

Na realidade, apenas uma parte delas não compra um EV porque não pode. Muitos, não compram por que não querem. Porque gostam do cheiro a gasolina pela manhã (ou é napalm? já nem sei...), porque carregar o carro dá mais trabalho do que ir à bomba (o que, a menos que se possa carregar em casa, é verdade), porque, porque, porque... 

Já escrevi isto antes e vou repetir: o futuro vem aí, quer queiramos ou não. E o melhor que as pessoas que "não gostam" de EVs podem fazer é começar a procurar informação e perceber como é que o futuro irá ser. Porque o futuro está-se nas tintas se vocês estão zangados ou não.

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